Loop quer reinventar o futuro da embalagem

Quaker-Loop575DIV

Embalagem de produto Quaker, marca da Pepsico, no projeto Loop: pelo menos 100 utilizações (Crédito: Divulgação)

Projeto de reuso envolve multinacionais como Danone, Pepsi, P&G e Nestlé e prevê expansão internacional.

Hoje parece muito hype fazer compostagem caseira e ter canudinhos reutilizáveis. Mas gerações atrás tinham hábitos ecologicamente muito mais corretos e viáveis do que os atuais. Os armazéns de secos e molhados, antepassados dos supermercados, é um grande exemplo: lá se comprava a granel com sacolas de papel. Numa época parecida, o leiteiro deixava garrafas cheias na porta das casas e retirava os vasilhames vazios. Até mais recentemente, era comum trocar garrafas de vidro vazias de refrigerante ou cerveja por outras, cheinhas. Não é de se espantar que esse modelo volte a ser debatido, já que o volume de resíduos sólidos gerados pelos consumidores são uma das maiores preocupações de nossos tempos.

O Loop é uma dessas propostas. O projeto vem sendo desenvolvido há alguns anos, mas foi apresentado oficialmente no último Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, em janeiro. Tendo grandes marcas de bens de consumo como parceiras, a ideia é que as pessoas se utilizem somente do conteúdo dos produtos e devolvam aos fabricantes as embalagens para serem esterilizadas e reutilizadas. P&G, Pepsi, Nestlé, Unilever, Danone, Mars Petcare e Mondelēz estão entre as empresas que têm participado do piloto em Nova York e Paris.

“A reciclagem não pode ser a solução: nós precisamos mudar nossa relação com aquilo que consumimos”, defende Renata Ross, marketing and relationship manager da TerraCycle no Brasil. A empresa, especializada em destinar corretamente produtos de reciclagem complexa, criou o Loop em parceria com as empresas. “O processo de pesquisa e desenvolvimento levou em consideração não só o design, mas também que as embalagens pudessem ser reutilizadas pelo menos cem vezes”, explica.

O consumidor faz, online, um depósito por essas embalagens e por uma caixa térmica que funciona como “cesto de troca”, mas a compra dos produtos só considera o valor do conteúdo. Nos Estados Unidos, um funcionário da UPS, empresa de logística também parceira do Loop, pega a caixa e troca por outra com pacotes ou frascos cheios. Enquanto isso, os recipientes utilizados são lavados e esterilizados para reuso. “Essas embalagens são bem mais caras que o normal, mas a ideia é que o consumidor não pague a mais por elas, que esse valor permaneça como um crédito dele. A ideia é que o produto tenha o mesmo preço do varejo normal”, diz Renata. “Cada vez que um produto passa pelo processo industrial, do envase, isso vira um passivo para as empresas. Com o Loop isso passa a ser um ativo das empresas e dos consumidores.”

Poder do consumidor

O Loop também é uma aposta da TerraCycle numa nova área de negócios. Hoje, sua maior receita vem de logística reversa e processamento de resíduos de reciclagem complexa. No Brasil, alguns de seus principais programas trabalham na coleta e encaminhamento adequado de itens como esponjas sintéticas, cápsulas de café, lápis, canetas e canetinhas. Entre as empresas parceiras estão Grupo L’Occictane, Avon, Melitta, 3M, P&G e Faber-Castell.

A empresa está no Brasil desde 2009, mas há três anos vem investindo em outros segmentos, como consultoria a empresas que desejam trabalhar melhor a logística e o processamento dos resíduos decorrentes de seus produtos. Essa é uma mudança de paradigma que acaba se refletindo na própria cultura de consumo.

“O brasileiro ainda é iniciante, mas vejo uma crescente em relação ao consumo sustentável”, diz Renata. “Mas talvez estivesse ainda maior se o consumidor tivesse dimensão do poder que possui. Se ele não souber o que fazer com qualquer produto que queira descartar — um celular, uma caixa de plástico, um isopor —, ele tem direito a exigir o recolhimento da empresa, não importa se é muito ou pouco reciclável”, relata. A executiva diz que a indústria e o poder público até se une ao redor de grandes projetos como o Plano Nacional de Resíduos Sólidos e o Acordo Setorial de Embalagens, iniciativas que têm procurado incentivar o debate e a adoção de práticas mais sustentáveis a respeito de descarte. Mas ainda há muito a se avançar. Estudo do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre), realizado junto à Ciclosoft revelou, no ano passado, que apenas 22% das cidades brasileiras têm algum sistema de coleta seletiva.

O Loop pretende ir, porém, além da coleta seletiva, transformando o próprio hábito de consumo e fazendo da embalagem um meio e não um fim. Por isso a parceria da TerraCycle com as marcas é essencial, tanto no redesenho de caixas, potes, frascos e similares, como na própria pesquisa de produtos.

Axe-Rexona-Dove-Unilever575DIV

Axe, Rexona e Dove: produtos Unilever no projeto Loop (Crédito: Divulgação)

Em reportagem à CNN sobre a parceria com a TerraCycle, Virginie Helias, chief sustainability officer da P&G, reforçou que há “uma vantagem fundamental no reuso em relação à reciclagem”, mas para isso, testes são essenciais: “Precisamos ter certas condições”, disse. A Nestlé chegou a desenvolver 15 potes de Häagen-Dazs diferentes até chegar à melhor solução. Foi um “teste torturante”, segundo Kim Peddle-Rguem, presidente da divisão de sorvetes, “esse processo ainda não é perfeito e sabemos que temos de seguir atualizando e refinando”. Mas as marcas não têm economizado investimento em novos modelos de vendas, já que é uma demanda de consumidores. “Temos visto isso em nossas pesquisas”, contou Viriginie, acrescentando que o desperdício de embalagem “tem se tornado um impeditivo de compras”.

Para endereçar isso, a cadeia de varejo também tem um espaço estratégico no futuro do Loop. Hoje, os itens são comercializados somente online, seja no site do projeto ou das marcas parceiras. Mas dois grandes varejistas já são parceiros: a Tesco em Londres e o Carrefour em Paris (ainda que por meio de e-commerce). A ideia é que a Amazon também embarque no projeto nos próximos meses.

Hoje, o Loop vende cerca de 300 itens em Nova York e Paris. Em maio estreia em Londres e, até ano que vem, deve se expandir para Toronto, Tóquio e São Francisco. Ainda não há previsão de aportar no Brasil, mas quando chegar, as famílias que guardavam engradados de cerveja na garagem já saberão o que fazer.

Fonte: http://www.meioemensagem.com.br

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima