Epidemia do coronavírus ameaça varejo e impulsiona e-commerce

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Estudo da consultoria internacional Kantar mediu o impacto do COVID-19 na China e identificou que o comércio de produtos on-line pode atrair novos consumidores.

Para Daniel Zhang, CEO da Alibaba, a epidemia tem impactado negativamente a economia geral da China (foto: NICOLAS ASFOURI/AFP ).
São Paulo – Enquanto o vírus COVID-19, conhecido popularmente como coronavírus, se espalha pelo mundo e registra o primeiro caso no Brasil, diversos setores da economia já calculam os efeitos da epidemia global em seus negócios – entre elas empresas ligadas ao setor do turismo, de transporte e, principalmente, ao comércio.

Embora ainda não existam dados que dimensionem uma eventual proliferação da doença no Brasil, alguns levantamentos globais servem de termômetro para o que pode acontecer por aqui.

“Ainda é cedo para calcular os danos do coronavírus em cada economia, mas é certo que muitos setores serão fortemente afetados pela paralisação ou redução das atividades”, afirma o economista Mario Cesar Velloso, especialista em comércio internacional pela Fundação Getulio Vargas (FGV). “Qualquer projeção nesse momento pode não passar de um exercício de futurologia.”

Um estudo da consultoria internacional Kantar, no entanto, chegou a conclusões importantes para as empresas que precisam definir suas estratégias no médio prazo. A companhia recolheu dados de forma online de mais de mil companhias entre 6 e 9 de fevereiro na China, inclusive na região de Hubei, epicentro da crise, para entender como a população tem se comportado. O levantamento constatou que, durante este período, a forma e as prioridades de consumo também sofreram drásticas mudanças, com forte redução de compras em lojas físicas e aumento das compras pelos canais digitais.

Pela impossibilidade de sair de casa, as indústrias de entretenimento e turismo são as que mais sofrem: 75% dos chineses disseram ter cancelado compras destas categorias e 17% reduziram os valores desde o início da crise. Em contrapartida, os gastos com alimentos e bebidas cresceram em 40% dos lares, produtos de limpeza em 48% e seguro saúde em 38%, especialmente na província de Hubei.

No entanto, quando finalmente puderem deixar suas casas, 82% dos chineses pretendem retomar as refeições na rua, 78% têm planos de viajar e 77% de investir em entretenimento fora de casa, chamado de out of home. A retomada não indica índices tão positivos para a indústria de luxo, que deverá ter as maiores perdas a curto e médio prazo, já que 61% afirmaram ter reduzido ou eliminado estes itens do orçamento e 21% pretendem continuar diminuindo a compra com o fim da crise. Este comportamento pode ser reflexo das mudanças de perspectiva de consumo que as pessoas apresentam após esse tipo de evento.

E-COMMERCE

Como é preciso passar o maior tempo possível em casa, 55% dos chineses têm usado as plataformas de e-commerce para abastecer as prateleiras. Segundo a Kantar, um comportamento curioso é que as pessoas têm se juntado em grupos de vizinhos, amigos ou familiares para trocar produtos ou fazer compras coletivas. Para isso, têm se organizado usando a plataforma de mensagens instantâneas WeChat.
De acordo com o levantamento, 35% das famílias citaram os grupos como um novo canal de compra. Este é provavelmente o mais longo período da história em que milhões de chineses têm sido obrigados a ficar em casa. Além de aulas online para crianças e adolescentes e trabalho remoto, as atividades que mais preenchem o tempo são na maioria relacionadas às telas: 58% optam por vídeos de longa duração, 56% por vídeos curtos e 41% estão ligados na TV. Já para 54% dos entrevistados, descansar tem sido a principal maneira de driblar o confinamento. Na sequência, 28% das pessoas têm aproveitado o período para cozinhar mais, 23% para curtir os filhos, 30% para estudar online e 26% para ler.

RECEIO

Apesar do cenário favorável ao crescimento das vendas online, a maior empresa de comércio eletrônico do mundo não está tão otimista assim. O Alibaba Group alertou que o surto de coronavírus, que já matou quase 3 mil pessoas na China, está causando um forte impacto sobre consumidores e comerciantes do país e afetará o crescimento da receita no atual trimestre.

De acordo com a companhia, o vírus afeta a produção na economia porque muitas pessoas não podem ir ao trabalho ou desempenhar suas funções. O surto também mudou os padrões de compra: os consumidores diminuíram os gastos discricionários, como viagens e restaurantes. A gigante chinesa de comércio eletrônico fez os comentários depois de divulgar fortes resultados financeiros no trimestre encerrado em dezembro. A receita subiu 38%, acima do esperado, para 161,5 bilhões de yuans (US$ 23,1 bilhões), enquanto o lucro líquido aumentou 58%, para 52,3 bilhões de yuans.

No entanto, de acordo com o CEO Daniel Zhang, a epidemia tem impactado negativamente a economia geral da China, especialmente os setores de varejo e serviços, disse Wu em teleconferência após os resultados. Embora a demanda por bens e serviços exista, os meios de produção na economia foram prejudicados pela abertura tardia de escritórios, fábricas e escolas.

Zhang disse ainda que a empresa observa mudanças relativamente significativas nos padrões de compra. Enquanto a entrega de alimentos está crescendo, áreas como roupas e eletrônicos enfrentam problemas logísticos. Ele alertou que a divisão de comércio eletrônico sofreu um impacto negativo nas duas primeiras semanas após o feriado. Pedidos de restaurantes e reservas de viagens também foram atingidos.

 

Fonte: https://www.em.com.br/

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